#109. Sinais de desconforto
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Olá,
Aquela história de tolerar vizinhos incômodos, que comentei na última mensagem? Não rolou. Minha nova estratégia é bater na parede e reclamar na portaria do condomínio, revidar incômodo com incômodo. Não há como escapar de certas batalhas, afinal.
Em algum momento do último ano, passei a reparar em comportamentos desencadeados por variações de humor, ou quando estou meio para baixo, o que, convenhamos, não é uma situação rara para um brasileiro em 2021. Tipo olhar preços de ações de empresas, coisa que, em condições normais, acho entediante. Quando eu me vejo abrindo o aplicativo Bolsa no celular, já sei que não estou legal.
Dia desses descobri outro sinal: olhar obsessivamente o “tempo real” da audiência do Manual do Usuário. O site tem um sistema simples de monitoramento da audiência, que coleta e exibe alguns dados. Entre eles, há um indicador de quantas pessoas estão no site naquele momento. “XX pessoas online”, só isso.
Existem alguns bons motivos para ficar de olho no tempo real, nenhum que faça diferença no Manual, um site projetado para tornar esse tipo de métrica dispensável. Ainda assim, o tempo real estava se tornando algo quase instintivo, a primeira coisa que eu olhava ao pegar o celular ou ligar o computador, incontáveis vezes ao dia. E para quê? Uma brevíssima massagem no ego se os números estivessem acima da média ou um muxoxo caso contrário.
Coisas assim eu tento resolver cortando pela raiz. Como não dá para desativar o monitoramento de audiência do Manual (por motivos comerciais), criei uma regra no bloqueador de anúncios para bloquear meu acesso ao painel dele. É mais ou menos como o alcoólatra que esconde a última garrafa no alto do armário, fora do alcance.
Oi, meu nome é Rodrigo Ghedin e estou há 0️⃣4️⃣ dias sem acessar o tempo real do Manual do Usuário.
Na quinta, desativei o bloqueador de anúncios e dei uma olhada na audiência, a primeira vez em junho, só para ver se o negócio estava funcionando. Estava.
Nos últimos anos surgiram muitos sistemas de estatísticas/analytics alternativos ao Google Analytics. Adotei um deles, o Microanalytics, no meu blog e site pessoal. Esse eu não precisei bloquear porque passo semanas sem lembrar que existe.
Aqui tem uma lista com outras alternativas.
Já se sabe que a transmissão do coronavírus pelo toque em superfícies e objetos contaminados é bastante improvável, e que o principal vetor de contaminação é pelo ar, em locais fechados e mal ventilados. Tal conhecimento talvez nos permita aliviar um pouco a paranoia com álcool em gel, mas… acho vou continuar com ela? Mal não deve fazer (sem excessos, claro).
Com as compras de mercado e do sacolão, por exemplo. Desde março do ano passado, sempre que chego de um deles faço um ritual diferente a depender do tipo de produto:
- “In natura”, como frutas e legumes, deixo de molho numa solução com água e água sanitária, depois enxaguo com água corrente, seco e guardo.
- Industrializados bem fechados, como latas, lavo com água e detergente.
- Os mais sensíveis, com embalagens de plástico fino ou que não pareçam resistir a um banho, limpo com um pano umedecido em álcool.
No início cheguei ao cúmulo de lavar as sacolas plásticas, que reutilizo nas lixeiras, mas isso já é demais, de modo que abandonei tal prática.
A delícia de pegar qualquer coisa em casa (menos as sacolas) ciente de que foi previamente higienizada justifica a trabalheira extra. Não que compense o evento que me levou a criar tal hábito, longe disso. Já dizia Criolo: não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você.
Por falar em pandemia, ontem (26) participei de um evento virtual bem maluco. A edição 2021 do Shift Festival foi feita na plataforma Gather, que simula ambientes daqueles joguinhos de RPG com visual 8 bits, como os Final Fantasy das antigas e Stardew Valley. Como dá para ver na imagem acima.
Estive em duas atrações. Na primeira, com o tema “Confortos digitais: startups estão mudando nossas vidas. O que vem depois?”, entrevistei o Startup da Real. Logo em seguida, mediei o painel “Mundo híbrido: vida pós-pandemia”, com Jacqueline Lafloufa, Vitorí e Samir Salim Jr. Foram boas conversas.
Meu notebook, coitado, sofreu para rodar o ambiente e tantos canais de áudio e vídeo simultâneos, mas no fim deu tudo certo. O Gather é legal, mas que saudade de ir a um evento desses presencial, em carne e osso. Em 2022, talvez?
Minha mais recente descoberta culinária é o leite de coco. Comprei uma vez, acho que por sugestão da P., sem a menor ideia do que fazer com ele. Aí um dia estava preparando estrogonofe de grão de bico e coloquei um pouco. E vi que era bom.
O estrogonofe ficou super cremoso e com um leve toque de coco, que adoro. Dali em diante, passei a colocar leite de coco no molho branco do macarrão, na polenta, em legumes cozidos. Tudo ficou gostoso. Não arrisquei substituir completamente o creme de leite pelo leite de coco (temo que fique com um gosto forte de coco), mas os dois combinam muito.
Um estrogonofe de grão de bico, ervilha e cenoura — e, claro, leite de coco:
As fotos de comida ficam muito mais bonitas com uma câmera decente. A do estrogonofe, acima, tirei com o celular mesmo — ele ainda ganha em praticidade. Abaixo, em fotos feitas com a câmera nova, o nosso macarrão especial do dia dos namorados, com cogumelos e camarão:
E uma sopa de batatinha salsa em um dos muitos (muitos, demais) dias gelados de junho em Curitiba:
Um grande sintoma da ruína que estamos vivemos, para mim, é a invasão dos sites de apostas esportivas. Deram uma afrouxada na legislação em 2019 e agora tem propaganda de sites de apostas em todo lugar. Jogos de azar são um tipo de negócio que não produz nada, e transformar finanças em entretenimento pode ter resultados catastróficos. E a troco de quê? Dinheiro (para a banca, claro). A cara desse Brasil contemporâneo.
Nunca havia lido nada da Chimamanda Ngozi Adichie. Li Americanah e entendi toda a comoção pela escrita dela. É muito bom!
O outro livro do mês foi Sem filtro: Os bastidores do Instagram, da Sarah Frier, que só reforçou a suspeita de que Mark Zuckerberg seja um tipo de sociopata e que não há espaço para que ideias legais floresçam sob a lógica do Vale do Silício. Esse livro, aliás, foi um “recebido” da editora Planeta. Alguém de lá lê o Manual e se ofereceu para me enviar uma cópia. Achei simpático.
Dos filmes a que assisti, gostei muito de 8½, do Fellini (demorei, né?), e Deus da carnificina, do Polanski, esse último daqueles que te obrigam o difícil exercício de separar a obra do artista.
- Um dos grandes baratos do Manual é me colocar em situações que chamo “experimentos”, quando tento fazer ou mudar alguma coisa na minha rotina e relato o processo na forma de um texto ou vídeo. Em junho, foram dois: um monitoramento preciso da minha jornada de trabalho (queria saber quanto tempo por dia eu gasto nisso) e o uso de uma chave de segurança para proteger contas e perfis digitais.
- A Apple anunciou as novas versões dos seus sistemas operacionais. É o tipo de evento que antigamente me deixava animado, mas que desta vez causou certa fadiga, ou cansaço. Essa sensação resultou em outro daqueles experimentos, que espero publicar em julho.
- Gostei muito da conversa com a Jacque, no podcast, sobre diários digitais. Comecei a escrever em diários há quase 20 anos, por sugestão de uma ex-namorada, como uma forma de lidar com as inseguranças e medos da adolescência. Vale para todas as idades.
Algumas indicações — ou coisas que eu uso e que têm programas de indicações que dão benefícios a quem se cadastra e a mim:
- WineBox Do Seu Jeito: Uma assinatura de vinhos, que entrega quatro garrafas todo mês por R$ 103,94, ou R$ 25,99 por garrafa. Vi agora que estão dando um vinho extra no segundo mês. Assinando com o meu cupom, nós dois ganhamos um vale-compras de R$ 50 cada. O cupom é RDRG325466
- Fastmail: Um serviço de e-mail australiano, alternativa ao Gmail e Outlook. Ele oferece e-mail, calendário e agenda de contatos, e até um espacinho para publicar sites estáticos (o meu pessoal está hospedado lá). Uso o plano de US$ 5/mês desde 2017, sem reclamações. Assinando por este link você ganha 10% de desconto por um ano.
- ~Livraria do Manual: Uma seleção de livros indicados e/ou citados em posts e podcasts do site. Ao comprar por esses links você não ganha nada, sinto muito, porém ajuda a financiar o Manual do Usuário sem gastar um centavo a mais.
Neste Brasil esquecido pelos deuses, vez ou outra surgem fagulhas de esperança por dias melhores. Aguente firme aí e vamos juntos. #ForaBolsonaro. Vai passar.
Até mês que vem!