#119. Falando da minha gastrite com estranhos
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Olá,
Algumas semanas atrás fiz uma endoscopia. (Nada preocupante, era só um exame de rotina.)
Ao sair da sala de exame, sob o efeito da anestesia, há relatos de que falei que uma vida boa consiste em almoçar comida gostosa e usar drogas, mas que é preciso dar um tempo nas drogas para votar em outubro e fazer a declaração do imposto de renda.
Já de volta à sobriedade, achei completamente maluco o estilo de vida proposto pelo meu subconsciente. Depois, pensando melhor… talvez ele não esteja de todo errado?
(Não use drogas.)
Dia desses estava no ônibus e um senhor de meia idade pediu orientação a uma mulher bem mais jovem que lia um livro de bruxos ou qualquer dessas bobagens escritas na esteira do sucesso de Harry Potter.
Não contente com a resposta, ele emendou uma conversa pelo gancho mais fácil: “Que livro é esse aí?” Do monólogo que se seguiu, soube — contra a minha vontade — que o senhor gosta de livros de fantasia, mas que aquele ali ele ainda não leu, e que ele lê muito porque era professor universitário e jornalista, mas que cansou dessa vida. Só não soube mais detalhes solicitados por absolutamente ninguém porque naquele momento a irmã do senhor fez uma videochamada (!) e ele atendeu ali, no meio do busão, momentos antes de chegarmos à estação tubo em que ele desceu.
(A coitada da mulher que tentava ler seu livro ainda teve que dar atenção a outra senhora que não se contentou em ouvir o relato do ex-professor e entrou na conversa. No fim, antes de sair, ouvi ela dizendo que aquele dia era Dia dos Escravos ou algo assim. Como a conversa chegou a esse assunto? Não sei, fiquei tão intrigado com o absurdo da situação que parei de prestar atenção.)
Esse causo me serve de introdução para um questionamento que sempre carrego comigo, principalmente quando envolve desconhecidos ou semi-conhecidos, e que agora compartilho com você, querido(a) leitor(a): até que ponto é legal a gente se abrir às outras pessoas? O que é legal de ouvir e o que soa esquisito? Falar de doenças e histórico clínico é uma boa? E se eu fizesse isso agora?
Talvez a gente não se conheça muito bem, mas lá vai: a minha endoscopia foi por causa de uma gastrite.
Digo isso não de graça. É que a notícia, que nem é notícia nova (tenho o diagnóstico há alguns anos), foi um grande incentivo para que eu mudasse alguns hábitos.
Depois do exame e já recuperado da viagem anestésica (infelizmente), decidi retornar à musculação. Havia parado no início da pandemia, quando travei uma guerra particular com a Smart Fit para cancelar meu plano porque, por algum motivo nunca explicado, a academia que se diz digital só deixava cancelá-lo presencialmente ou enviando uma carta — sim, uma carta de papel.
(Por muito tempo, minha via crucis com a Smart Fit foi um dos textos mais acessados do Manual do Usuário.)
E como faz bem, né? É meio patético ter que me deslocar para um lugar para fazer força à toa, desperdiçar energia apenas porque sim, e embora eu deteste o ambiente e não sinta aquele prazer viciante que alguns alegam sentir após praticarem exercícios, os resultados são visíveis e motivadores. Menos dores nas costas, um alívio no bruxismo, por exemplo.
(Se, dez mil anos atrás, nossos antepassados não tivessem cometido o pecado original de trocar a vida de caçadores-coletores pela de agricultores, como argumenta o amigo Rutger Bregman que comentei na edição passada da newsletter, não teríamos esse problema hoje. Maldito agro!)
Outra mudança que implementei em minha vida foi na alimentação. Cortei alguns itens que sempre caem mal no estômago, como cebola crua e embutidos de baixa qualidade. Isso significou uma redução drástica no dogão e suas imprescindíveis duas salsichas feitas de ingredientes inomináveis. Era uma autoindulgência semanal; agora, decidi comer dogão apenas uma vez por mês.
Novamente, apesar das restrições (gosto muito de dogão), os resultados compensam. Os quadros de azia e queimação, que, ainda que leves, eram frequentes, meio que acabaram.
Quem diria que exercitar-se e alimentar-se direito poderia fazer bem ao corpo?
(Estou me imaginando no ônibus, contando a algum infeliz que só queria ler seu livro em paz durante a viagem a minha história de superação do controle da gastrite. Desculpa.)
Comentei no Manual dois sistemas de publicação que funcionam por SSH, um protocolo de conexão remota via linha de comando. (Se isso ainda soou grego a você, é um negócio que permite conectar um computador a outros computadores pela linha de comando, aquela tela preta com letrinhas brancas que todo hacker que se preze usa.)
Achei fascinante. Um deles, o prose.sh, serve para publicar blogs. O outro, lists.sh, listas. Esse segundo me causou outro deslumbramento: uma publicação baseada em listas, e somente nelas. Massa.
Aqui, do meu ponto de observação, listas tiveram seu auge com “Alta fidelidade”, livro do britânico Nick Hornby de 1995 que depois, em 2000, virou um filme meia boca estrelado pelo John Cusack.
“Alta fidelidade” conta a história de um cara inseguro e teimoso, com dificuldades em se relacionar. Ele é obcecado por música, ex-DJ e dono de uma loja de discos que não passa por um bom momento. (E isso nos anos 1990, antes do streaming e até do MP3; hoje, coitado, certeza que estaria desempregado.) Ah, e ele gostava de fazer listas “top 5” com seus dois amigos.
Amava “Alta fidelidade”. É dos poucos livros que já reli mais de uma vez. Talvez me identificasse um pouco com o detestável Rob Fleming (o protagonista), embora acho que não mais. (Na história Rob tem a idade que tenho hoje. Deve fazer uns 15 anos da última vez que li esse livro. Talvez devesse relê-lo.)
Enfim. Sempre fico tentado a experimentar esses sisteminhas engenhosos, mas me contenho porque… né, não é como se eu já não tivesse onde publicar minhas bobagens. Tenho até demais, o que se constata pelos sumiços prolongados em alguns deles, vide esta newsletter.
Ainda assim, queria publicar listas, então criei uma nova categoria no meu blog. Já tem duas lá: filmes mais tristes a que já assisti e dogões da Zona 7 de Maringá (2013–2017).
Tenho me frustrado com algumas leituras difíceis de temas que me interessam. Se me interessam, por que a leitura não flui?
Fiquei me debatendo nessa questão até encontrar uma possível resposta: eu estava desdenhando a complexidade desses temas, “de humanas”, exatamente como faz aquele pessoal de exatas mais bitolado.
Ninguém pega um livro de cálculo avançado porque gosta de fazer o controle financeiro pessoal no Excel usando fórmulas simples (culpado) e tira dali uma leitura proveitosa. Por que seria diferente com livros que se dispõem a esmiuçar, para ficar em um exemplo, a sociedade do espetáculo do Guy Debord? (Obrigado pela cópia, Todavia!)
Senti o mesmo na leitura de “O diálogo possível”, do Francisco Bosco, que abri na esperança de descobrir o segredo para conversar com parentes bolsonaristas sem me irritar profundamente, mas que acabou não funcionando muito bem.
Esse livro, do Bosco, eu li até o final. Passei por vários momentos do tipo “o que estou lendo, eu só tenho cinco anos” e alguns em que o sentimento foi de “o que esse cara está falando?” Tipo no final, quando ele tece uma crítica que achei meio pesada e injusta às lutas identitárias. Pareceu-me um relativismo exagerado, como se ele estivesse pagando um pedágio para poder dar porrada (figurativa) no Bolsonaro sem ser acusado de comunista.
Ou talvez eu tenha entendido errado, sei lá. Dada a repercussão positiva da crítica, é uma possibilidade. A Folha de S.Paulo publicou um trecho do livro (sem paywall), logo do começo, quando as coisas ainda fazem algum sentido a mim. (Obrigado por mandar este também, Todavia!)
Depois disso, segui o conselho da Jacque Lafloufa, que apresenta o podcast do Manual comigo, e parti para leituras mais leves. Li um livrinho que a assessoria da Lenovo me deu em 2017 que conta a história dos computadores ThinkPad, que em alguns momentos se parece com um #publi, mas ainda assim achei interessante, e agora estou no meio de “Snow Crash”, do Neal Stephenson, livro de 1991 que cunhou o termo “metaverso”, recentemente resgatado e apropriado por sociopatas do Vale do Silício. (Obrigado por este, Aleph!)
(Amo que o computador sempre sugere corrigir “metaverso” para “metatarso”.)
Em julho, vi os filmes “O som do silêncio” (2019, Darius Marder), “Juventude” (1951, Ingmar Bergman) e “Thelma & Louise” (1991, Ridley Scott). Todos ótimos.
Tenho assistido a bem menos filmes ultimamente. Dias mais curtos, acho.
Eu sempre recomendo coisas que uso e gosto ao final desta newsletter. Hoje, queria introduzir um serviço de que não gosto muito, mas que pode ser útil e, por isso, passo a recomendar.
Acho fascinante o poder transformador do ser humano quando os incentivos funcionam, e o dinheiro é sem dúvida um dos maiores incentivos que a humanidade já criou para si mesma, talvez só rivalizado pela religião.
É um assunto de que gosto, mas que perde a graça em algum momento, quando desse jogo passa a depender a dignidade de quase toda a humanidade. (Convenhamos, dinheiro é um jogo de acumular pontos de soma zero.) Não ter “pontos” suficientes implica em passar perrengue e o jogo dinheiro é nível hard se você não nasceu com o cheat “herança” ativado. Zoado demais.
Enquanto a gente não muda o sistema, é válido aprender alguns macetes tanto para tentar alcançar aquele mínimo de dignidade quanto para, em uma situação mais confortável, não virar um mau jogador — ou, como gosto de chamar, um grande cuzão.
A minha recomendação é a carteira digital do Mercado Pago. Toda empresa está virando banco no Brasil (obrigado, Banco Central), o que cria algumas oportunidades até para nós, a maioria que regra geral só fica com a raspa do tacho das verdadeiras oportunidades que o capital gera. (Não é coincidência, mas sim culpa dos mau jogadores que já acumularam muitos pontos no jogo e sempre querem mais, esses cuzões.)
Neste mês, passei meu capital de giro (pareço um burguês safado falando assim) para a conta digital do Mercado Pago por um motivo: rendimento diário a 100% do CDI e sem incidência de IOF.
(Não sou economista, mas siga comigo) Alguns tipos de aplicações, como o CDB maroto que todo banco oferece aos correntistas, têm incidência regressiva de IOF nos 30 primeiros dias. Isso significa que se você retirar o dinheiro antes do trigésimo dia, leva uma mordida do fisco. (Outra mordida; de qualquer forma, o imposto de renda sempre incide no rendimento do CDB.)
Para investimentos de longo, médio ou mesmo curto prazo, o IOF não é problema. Afinal, depois de 30 dias ele some. Para o capital de giro, aquele dinheiro que entra e sai dentro do mês, ele é.
Havia configurado minha conta corrente no bancão para aplicar automaticamente em um CDB, mas a mordida do IOF estava doendo. Aí topei com essa “promoção” (?) do Mercado Pago e… por que não?
Nem eu, nem você ficaremos ricos com esse rendimento, mas talvez até o fim do ano os trocados da conta do Mercado Pago — livres de IOF — consigam pagar o dogão de dezembro.
Algumas indicações — ou coisas que eu uso e que têm programas de indicações que dão benefícios a quem se cadastra e a mim:
- Mercado Pago: Cadastre-se pelo meu link e ganhe R$ 10 de desconto no seu primeiro pagamento (boleto, QR code ou recarga de celular).
- Winebox: Assine com o meu cupom (
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), ganhe um vale-compras de R$ 50. - Fastmail: Assine com o meu link, ganhe 10% de desconto por um ano.
Obrigado pela companhia!
Rodrigo Ghedin.