#123. Diário de humor
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Olá,
Você talvez tenha visto a história da norte-americana que só tomou 37 banhos em 2022.
Ela me chamou a atenção por outro motivo além do óbvio: pela primeira vez, vi o aplicativo Daylio ser citado por aí.
Uso o Daylio desde fevereiro de 2021. Não me lembro de como o encontrei, só que foi uma grata surpresa. É um diário de humor: todos os dias (idealmente), você registra o seu humor e as atividades que te afetaram. Com o tempo, é possível observar tendências, como quais atividades influenciam o seu humor, e extrair algo de autoconhecimento disso.
É uma tentativa falha, mas interessante, de se entender melhor.
Variações do humor são uma constante nas nossas vidas e, acho eu, um bom termômetro para avaliar o que estou fazendo da minha.
Em “Sapiens: Uma breve história da humanidade”, Yuval Harari argumenta em algum momento que o nosso humor é como um ambiente refrigerado. Não lembro bem o contexto dessa passagem. Relê-la agora, avulsa e muitos anos depois da perimira vez, me fez lembrar o conceito de adaptação hedônica:
Alguns estudiosos comparam a bioquímica humana a um sistema de ar-condicionado que mantém a temperatura constante, venha uma onda de calor ou uma tempestade de neve. Os eventos climáticos podem mudar a temperatura momentaneamente, mas o sistema de ar-condicionado sempre faz com que a temperatura retorne ao mesmo ponto predefinido.
Alguns sistemas de ar-condicionado estão configurados para 25 graus Celsius. Outros estão configurados para 20 graus. Os sistemas de condicionamento da felicidade humana também diferem de pessoa para pessoa. Em uma escala de 1 a 10, algumas pessoas nascem com um sistema bioquímico alegre que permite que seu humor oscile entre os níveis 6 e 10, estabilizando-se, com o tempo, no nível 8. Tal pessoa é muito feliz mesmo que viva em uma cidade grande alienante, perca todo o dinheiro em uma queda da bolsa de valores e seja diagnosticada com diabetes. Outras pessoas são amaldicoadas com uma bioquímica melancólica que oscila entre 3 e 7 e se estabiliza em 5. Tal pessoa infeliz permanece deprimida mesmo que desfrute do apoio de uma comunidade coesa, ganhe milhões na loteria e seja tão saudável quanto um atleta olímpico.
O nível estável do meu humor, minha “temperatura estável”, é mais para baixo, acho. Detectar as variações da “temperatura” e aprender a lidar melhor com os pontos baixos (porque é impossível evitá-los) foi o que me motivou a usar o Daylio.
(E, talvez, uma ânsia meio boba por controle, que suspeito tenha relação com o meu humor, também tenha contribuído para adotar o aplicativo. Já contei que registro minha ingestão diária de água? Serve mais como estímulo para beber mais água do que qualquer outra coisa.)
A parte dos humores é bem direta no Daylio. O aplicativo sugere (sugestão que acatei) uma escala gradual de cinco humores, que defini nos seguintes termos:
- Pleno;
- Bem;
- Indiferente;
- Desanimado; e
- Péssimo.
A parte das atividades é mais complexa. O que registrar? Em tese, é simples: atividades que influenciam o humor. Mas qual o nível de abstração, ou de detalhamento? Qual o escopo?
O Daylio também sugere diversas atividades, algumas que eu nem cogitava marcar a princípio, mas que fazem sentido, como o clima — se choveu, fez sol, estava frio. O clima cagado de Curitiba, sempre nublado, é capaz de por si só me deixar para baixo em alguns momentos do ano.
Em 2022, anotei o clima do dia nas atividades. E mais um punhado de coisas. Decidi ser bastante granular, na expectativa de que o excesso de dados pudesse revelar algo importante que a escassez de 2021 ocultara.
Aí no fim do ano eu parei, observei e não extraí revelação alguma da montanha de dados. Talvez se já tivesse a versão paga do Daylio? Ela libera alguns cruzamentos de dados extras, mas… sei lá, desconfio que não.
Para 2023, revisei as atividades e dei uma enxugada nelas, deixando só aquelas em que exerço um mínimo de ingerência, ou participação. (As “atividades” do clima, por consequência, rodaram nessa, porque embora afetem o meu humor, ainda não tenho o poder de fazer parar de chover.)
Outra coisa legal do Daylio é que dá para transformar atividades em “objetivos”. É um flerte com a “gamificação”, ou seja, transformar a própria vida em um jogo, o que acho… zoado, mas que às vezes funciona para o (meu) bem, como no lance da ingestão de água.
Uso os objetivos como um vetor para estimular hábitos saudáveis. No momento, estou me cobrando ir à musculação três vezes por semana e a interagir mais com as pessoas ao vivo, olho no olho, sem telas entre a gente.
Por fim, outra mudança em 2023: passei a usar o campo de texto dos registros do Daylio como um diário diário. Até ano passado usava outro, o (também ótimo) Day One, mas com o tempo os dois aplicativos convergiram e se tornaram redundantes. Preferi concentrar tudo no Daylio.
Dia desses aproveitei um dos descontos que o Daylio oferece a toda hora e fiz a assinatura anual. Ainda não sei se vale a pena. Ela libera elementos visuais extras (engraçadinhos, mas dispensáveis) e alguns cruzamentos de dados e análises. Considerei a assinatura uma retribuição aos bons serviços prestados por quem quer que tenha criado esse aplicativo. Ele é ótimo.
Para não ficar parecendo uma propaganda do Daylio (não é), termino indicando outros aplicativos parecidos, como o recém-lançado e totalmente gratuito Tibio (fiquei tentado a migrar para este), o DailyBean (os ícones são uma gracinha), Pixy Mood Tracker e Haema Diary.
Lançamos uma espécie de fórum no Manual do Usuário, o Órbita. Tem gente usando e acho que tem potencial para virar algo bacana — mais do que já é.
Se quiser participar, cadastre-se aqui. Ou apenas navegue por lá; dá para ler tudo e comentar sem cadastro.
Até a próxima!
Rodrigo Ghedin.