#124. Estou de volta
Olá,
Faz cinco meses desde que enviei a última edição desta newsletter, ou oito, se considerarmos que trapaceei e publiquei em março, aqui, um texto que era para ter saído no Manual do Usuário.
Em vez de dar uma desculpa esfarrapada, proponho esquecermos essa ausência prolongada e continuarmos de onde paramos, como se nada tivesse acontecido.
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Na real, acho que esse é um bom assunto. Voltemos. Eu assumo a culpa, vai.
Nesses oito meses em que não dei notícias, publiquei a newsletter do Manual religiosamente três vezes por semana, fiz coisas novas lá (incluindo um mês de imersão em redes sociais sem proteção anti-radioativa), me cuidei, até me diverti uma ou duas vezes.
Só faltou ver Barbie, porque toda sessão no nosso cinema favorito esgota rápido ou é em horário de desocupado (meio da tarde).
Faço essa “prestação de contas” para exemplificar um traço muito meu: o funcionamento à base de metas, com muito planejamento, com compromisso.
Outro exemplo. Acho que já falei aqui de um aplicativo que uso para acompanhar minhas leituras de livros. Apesar de ser um app, é um negócio bem manual: toda vez que pego um livro para ler, aperto um botão para ligar o contador de tempo e outro para pará-lo quando termino. No fim, sei quanto tempo levei para lê-lo.
Completamente dispensável, mas me pegou de jeito. Fazia quase dois anos que eu lia pelo menos 10 minutos de um livro por dia. O app não me deixa mentir; ele mostrava a sequência de dias e ficava me atiçando para sustentá-la.
Tudo lindo, até que em um dia conturbado em meados de julho, com um evento familiar correndo em paralelo à migração do Manual para um novo servidor, esqueci total do livro da vez.
Perdi minha sequência e o hábito de leitura saiu dos trilhos.
Faz quase um mês que estou empacado no mesmo, e nem é por ser um ruim ou desinteressante. Sem o compromisso, as tentações do tipo desligar o cérebro se apossaram de mim.
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No mês de imersão em redes sociais, em julho, confrontei um dos meus maiores medos da vida: o de fazer papel de ridículo.
Eu sei — acredite — que é um medo infundado, porque todos nós fazemos papel de ridículo em algumas (muitas) situações. Estou bem com isso, já aceitei. Meu receio é fazer papel de ridículo sem perceber. O que talvez seja o verdadeiro papel de ridículo.
Esse dilema bateu forte enquanto fazia vídeos verticais, “de pé”, estilo TikTok. (Não se anime, não apareço dançando.) Veja você: eu, beirando os 40, fazendo vídeo de TikTok. A que ponto chegamos?
Não é raro ouvir de artistas e influenciadores que eles não revisitam o que produzem. Eu, ao contrário, releio muito do que escrevo, ouço meus podcasts, agora passei também a rever meus vídeos.
É um bom exercício para semi-paranoicos com a possibilidade de passar por ridículo sem perceber.
Até agora, tenho achado os vídeos que fiz ok, não muito bons, mas longe de serem ridículos. Se discorda, por favor, dê aquele toque amigo. Serei eternamente grato.
É um progresso, mas ainda tenho muito chão pela frente. Só consigo fazer vídeos sozinho e dentro de casa. Nem P. testemunha as gravações. Fora de casa, no meio da rua? Talvez um dia eu chegue lá, talvez não. Espero que não.
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Note que tenho menos filtro para me expor em texto escrito, mesmo usando balizas mentais do tipo “eu diria isso à minha mãe, ou em uma sala cheia de amigos e/ou conhecidos?” com frequência para evitar constrangimentos.
Não sei qual é o limite da exposição, mas acredito estar a uma distância segura dele.
Um tópico que me fascina, nesse aspecto, é o da saúde mental. É algo tão íntimo, que demanda um nível de vulnerabilidade e exposição tremendo e, por outro lado, por vezes proporciona aqueles raros momentos em que algo é bonito e útil ao mesmo tempo.
Ia linkar aqui um post em que o autor fala abertamente das dificuldades que sente em se animar e tudo mais, que li há meses, como exemplo de abordagem que admiro e não tenho coragem de adotar. Topei com uma mensagem dizendo que o site em questão foi tornado privado.
Talvez o autor tenha passado do limite dele. O que é uma pena, porque era um excelente texto.
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A Jacque saiu do podcast faz uns meses. Após refletir, decidi continuá-lo sozinho, alternando episódios de entrevistas com alguns monólogos.
Em certo sentido, ouço nos meus monólogos um pouco do tom que tento empregar nesta newsletter. (Espero que não enfadonho; já me acusaram de ter “voz de ASMR”.) O dessa sexta foi um do tipo. Ouça no Apple Podcasts, Spotify ou no site.
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Cultivar uma newsletter, escrever regularmente sem um objetivo ou por obrigação, parece algo fácil, até gostoso. Às vezes é, mas nem sempre.
Faz algumas semanas, incluí na do Manual uma seção em que indico (por sorteio) três títulos do diretório de newsletters.
São +260 newsletters cadastradas, e o que era para ter sido uma maneira fácil de encorpar a minha e fomentar o crescimento das outras, virou uma pequena dor de cabeça: a maioria foi abandonada, não é mais atualizada.
Faço aqui, então, um compromisso público de retorno às atividades: a cada 15 dias, uma edição nova. Por que 15 dias? Para eu usar o fim de semana sem envio para rascunhar alguma coisa.
Pode me cobrar. Espalhe a newsletter, recomende-a aos amigos, aumente a pressão em cima de mim. Estou preparado.
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Um último aviso, que talvez devesse estar lá no topo: liguei o monitoramento de aberturas e cliques desta newsletter.
É o padrão da indústria e pode ser uma pequena invasão de privacidade. Por outro lado, é interessante, às vezes útil, saber qual edição é mais lida, quais links são clicados, essas coisas. Virei essa chave no começo do ano na do Manual, gostei dos resultados, e por isso estou fazendo aqui também.
Não se preocupe, não quero saber quem leu ou não leu tal newsletter. Sou desprendido o suficiente para não ficar tentado. Faço esse aviso em nome da transparência e da nossa boa relação.
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Volto à sua caixa de entrada no dia 26/8.
Até lá!