#126. Texto puro e fotografia
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Olá,
Estava ansioso para enviar a próxima edição desta newsletter por um motivo bobo: estrear o novo leiaute. Ou “não leiaute”. Ficou bom aí?
Quando o Buttondown, serviço de newsletter que uso, anunciou um novo leiaute padrão[1], mencionou no texto que o anterior era em texto puro.
Estranhei. (Prepare-se para uma pequena digressão técnica.) “Texto puro” é texto sem qualquer formatação, tipo aquele que aparece no Bloco de notas do Windows. E-mails podem ser apresentados de duas formas: como texto puro ou em HTML (como páginas de um site). Os leiautes padrões do Buttondown, embora seja/fosse simples, era/é em HTML. Questionei esse detalhe ao Justin Duke, fundador do Buttondown, e ele confirmou que, de fato, o serviço nunca teve um leiaute em texto puro. Aí ele criou uma opção de texto puro de verdade e a habilitou na minha conta. (Fim da digressão.)
Simplicidade em design é uma boa saída para quem não tem habilidade com ferramentas e/ou senso estético apurado. Ela reduz ao máximo os pontos de falha, as chances de erro. Não dá para ser mais simples que texto preto contra fundo branco, em uma fonte monoespaçada padrão, zero adorno. É por isso, entre outras coisas, que eu adoro texto puro.
[1] https://buttondown.email/changelog/2023-11-02
Consigo mandar quatro edições por semana da newsletter do Manual do Usuário sem falhas. Nesta newsletter, supostamente quinzenal, minha melhor sequência em 2023 foi de duas edições. O que há?
Não é só porque encaro o Manual como trabalho. Em um negócio criativo como uma “newsletter pessoal”, cabe qualquer assunto e abordagem. Isso paralisa.
E, repetindo-me, não é só isso também.
Vou tentar elaborar.
Faz alguns anos, eu simplesmente parei de tirar fotografias por prazer. De encontrar um detalhe na paisagem, um cenário curioso, uma pose espontânea e clicar.
Você talvez nunca tenha tido esse impulso; eu já tive. Gostava muito de fotografar na adolescência e no início da vida adulta. Tirava muitas fotos — a maioria pretensiosa e/ou ruim — e, não importava o resultado, curtia todo o processo, da ideia à pós-edição. Gostava de mostrá-las ao mundo, mesmo que esse mundo fosse de algumas poucas pessoas.
Aí, do nada, parei. Perdi a vontade. Não vi mais graça. De repente, o ato de fotografar e as fotos em si, ou o que eu era capaz de imaginar e de registrar, pareceram-me banais, sem sentido.
Às vezes, acredito que seja uma espécie de ressaca da saturação imagética causada pela explosão de celulares com câmeras e redes sociais como o Instagram. Qual o sentido de tirar a mesma foto que milhões de pessoas já tiraram e que será vista por dois segundos enquanto alguém rola a tela o mais rápido possível?
Essa suspeita é reforçada quando extrapolo outros desinteresses recentes. De publicar em redes sociais, de opinar, de aparecer. A cacofonia e as armadilhas — a essa altura, óbvias — da maioria dos espaços digitais de interação me desanimam.
Foi facílimo parar de usar o Twitter e me é perfeitamente possível ir a qualquer lugar do planeta e não postar algo no Instagram.
Diz o velho ditado que “quem não é visto, não é lembrado”, um recado que sempre bate forte em introvertidos inveterados. E é isso, apenas isso, que me faz hesitar em fechar os olhos e mergulhar na minha solitude também no digital.
Será que as pessoas se esquecem de mim quando não me veem nos stories do Instagram?
Não sei, mas você está aqui, lendo algo que escrevi, e isso é o máximo! Quem disse que “uma imagem vale mais que mil palavras” nunca recebeu uma newsletter gostosa.
(Espero que esta leitura tenha sido gostosa.)
Um abraço, Rodrigo Ghedin.