#141. Negatividade
Olá,
Tornei-me a pessoa que temia: um reclamão. A ponto de, no domingo, P. reclamar que eu estava muito negativo.
Faz alguns meses que virei participante involuntário do clube dos que acordam às 5h da manhã, o que me levou a ver o final dos desfiles das escolas de samba por esses dias. A única coisa em que conseguia pensar enquanto elas passavam pela avenida era a poluição monumental que deixavam para trás, das fantasias detalhadas aos carros alegóricos imponentes.
Mais tarde, vimos o vídeo da Anitta mostrando sua casa, o que talvez tenha sido um equívoco porque não consigo ver impassível vídeos do gênero “gente muito rica mostrando suas mansões bregas”.
É esse tipo de negatividade, uma mistura de tédio, impaciência e uma pitada de cinismo, que estou emanando.
Talvez os dias de feriado tenham levado a um aumento nos acessos ao Bluesky (Twitter 2.0) e do consumo de TV. Tratei de cortar ambos.
Preciso sair mais de casa.
Se tudo correr bem, nesta quarta retornarei ao meu bom e velho (e pequeno) iPhone. Não aguentei duas semanas com outro celular, embora considere que a culpa foi menos do Android, mais do tamanho gigantesco do Galaxy A55 — e de todos os celulares modernos. Parecem tablets, quase inutilizáveis.
Pelo menos agora vou sossegar o fogo no rabo e ficar com o meu celular antigo (e pequeno) com um apreço renovado por ele, torcendo para a bateria durar bastante e os dois riscos que apareceram embaixo da tela não piorem. E, espero, menos obcecado por bobagens que, tal qual a bad vibes, não sei de onde vêm e acho que me fazem mal.
Escrevi um negócio relacionado a isso no Manual do Usuário[1].
[1] https://manualdousuario.net/obsessao/
Li três livros em 2025:
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“De moto pela América do Sul”, uma edição editada dos diários que o jovem Che Guevara escreveu durante a viagem que fez de moto (às vezes, a pé) pela América do Sul, antes de virar o guerrilheiro revolucionário. Achei fascinante e me levou ler mais a respeito dele.
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“Nexus”, o novo do Yuval Harari, me fez questionar o meu eu de uma década atrás que gostou muito de “Sapiens”. Fraquíssimo[2].
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“A década da revolução perdida”[3], do Vincent Bevins, um relato por vezes em primeira pessoa dos protestos de massa desencadeados pela Primavera Árabe nos anos 2010 e as consequências que sentimos ainda hoje. (O Brasil tem destaque no livro; Vincent morou uns bons anos aqui no período, como correspondente internacional.)
[2] Minha crítica no Manual: https://manualdousuario.net/nexus-livro-yuval-harari-critica/
[3] Li a edição em inglês, que tem um título mais ousado (e melhor). No Brasil, a publicação é da Boitempo: https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/a-decada-da-revolucao-perdida-153076
Um abraço e até a próxima!
— Rodrigo Ghedin